Cupins
Dentre as cerca de 2700 espécies atuais de cupins existentes no mundo, apenas pouco mais de 70 ou 80 espécies foram assinaladas como pragas. Nas áreas urbanas mundiais, estima-se que os gastos com tratamento, reparos e substituições de peças atacadas por cupins alcance, na atualidade, valores da ordem de US$ 5 a 10 bilhões anuais. Apenas na cidade de São Paulo, as perdas podem atingir algo em torno de US$ 10 a 20 milhões anuais.
Filo:Â Arthropoda
Classe:Â Insecta
Ordem:Â Isoptera
Descrição e biologia
São também chamados de térmitas, formigas brancas, siriris ou aleluias. Junto com as formigas, algumas abelhas e algumas vespas são chamados de espécies eussociais, pois apresentam as seguintes caracterÃsticas: Cuidado cooperativo com a prole: ovos e os jovens são cuidados pelos irmãos mais velhos; Casta reprodutiva: presença de alados, rei e rainha ao mesmo tempo em que há castas estéreis (operários e soldados); Sobreposição de geração: no caso dos cupins, pais (rei e rainha) e filhos (operários, soldados e reprodutores de substituição) convivem numa mesma colônia. A cabeça dos cupins tem forma e tamanho variáveis e olhos geralmente presentes nas formas aladas e atrofiados nas formas ápteras. O aparelho bucal é do tipo mastigador e bem
desenvolvido, principalmente nos soldados. Apenas os cupins reprodutores apresentam 2 pares de asas membranosas, que possuem uma sutura basal, que se rompe e destaca-se do corpo após a revoada. A fonte alimentar básica dos cupins são os materiais celulósicos e lignocelulósicos sob diferentes formas: madeira viva ou morta (em diferentes estágios de decomposição), gramÃneas, raÃzes, sementes, fezes de herbÃvoros, húmus, manufaturados, etc. Em termos gerais a digestão da celulose é feita com o auxÃlio de microrganismos simbiontes intestinais: bactérias e/ou fungos, nos chamados “cupins superiores†(toda a FamÃlia Termitidae) e flagelados, nos “cupins inferiores†(espécies das outras famÃlias).
Organização social
Antes de abordar-se sobre as castas é bom esclarecer alguns termos usados para as formas imaturas, pois há uma nomenclatura diferente daquela normalmente utilizada na Entomologia. Assim, o termo “larvas†designam os imaturos sem broto alar, sem caracterÃsticas de soldado e não pigmentados; “ninfas†são usados para designar imaturos sem caracterÃsticas de soldado, com broto alar, ainda pouco pigmentados e “soldados brancos†ou “pré soldados†os imaturos pouco pigmentados, pouco esclerotizados, mas já com caracterÃsticas de soldado.
Uma colônia é constituÃda por um par real (rei e rainha) que são os reprodutores (férteis), os operários e os soldados (estéries). Cada uma destas castas têm funções muito diferentes.
Operários – casta mais numerosa da colônia e composta por indivÃduos ápteros e estéreis, sendo responsáveis por todas as funções rotineiras da colônia como obtenção de alimento, construção, reparo, expansão e limpeza do ninho etc.
Soldados – responsáveis pela defesa da colônia, são morfologicamente diferentes dos operários, havendo muitas adaptações para esta função. Por exemplo, as mandÃbulas podem ser muito desenvolvidas para a defesa mecânica; podem existir glândulas especiais que produzem substâncias usadas como defesa quÃmica e ainda ocorrem combinações de defesa quÃmica e mecânica. Os soldados não realizam outras tarefas na colônia e são alimentados pelos operários. Geralmente aparecem em grande número em colônias estressadas.
Reprodutores – são os únicos que se reproduzem na colônia e podem ser: reprodutores primários, que são alados (siriris, aleluias), bem pigmentados e esclerotizados, com olhos compostos perfeitamente desenvolvidos. Depois de voarem e perderem suas asas fundam uma nova colônia e recebem o nome de rei e rainha. As rainhas passam por um processo chamado de fisiogastria, onde há um crescimento do abdome. Neste momento ela é chamada de fêmea fisiogástrica; reprodutores secundários, que se desenvolvem dentro da colônia e poderão substituir o rei e a rainha em caso de morte ou ainda ocorrer junto com o par real primário; reprodutor neotênico, que é qualquer cupim reprodutor que não derive de um alado e finalmente o reprodutor adultóide, que é um alado maduro que permanece na colônia, perde as asas e torna-se funcional, macho ou fêmea.
Ciclo de vida
O desenvolvimento é incompleto, compreendendo as fases de ovo, ninfa e adulto. As ninfas sofrem ecdises até chegarem à forma adulta. É durante essa fase de desenvolvimento que será definida a “finalidade†da ninfa, ou seja, se transformarão em operários, soldados, reprodutores alados ou de reposição, de acordo com a necessidade da colônia. No último estágio, as ninfas podem desempenhar as funções dos operários. Após a revoada, os alados perdem as asas e juntam-se aos pares, saindo à procura de local
adequado para o estabelecimento da nova colônia. Decorridos alguns dias após a cópula, a rainha começa a postura. As primeiras posturas originam apenas operários que darão inÃcio à construção da colônia, estes também servem de alimento. Depois de estabelecida a colônia, começam a surgir os indivÃduos das outras castas. Após atingir a maturidade da colônia (por volta de 5 anos), começam também a surgir os indivÃduos alados que irão fazer novas revoadas e estabelecimento de novas colônias.
Principais Espécies e Danos Causados
Os principais danos causados por cupins são nas estruturas de madeira, móveis e outros derivados de celulose como livros e papeis em geral. Podem causar danos a cabos elétricos e telefônicos subterrâneos ou não, com lesão do envoltório protetor e consequente perda de energia ou provocando panes. No caso de cabos embutidos em conduites e em caixas de chaves, interruptores e tomadas, o cupim acarreta risco de curto-circuito e incêndio. Os danos também são notados em árvores urbanas, com risco de queda de ramos maiores e enfraquecimento do suporte lenhoso e tombamento das árvores.
Principais espécies
– FamÃlia Kalotermitidae
Cupim de madeira seca – Cryptotermes brevis: Soldados com 4 a 5 mm de comprimento, com cabeça fragmótica de coloração marrom escura a preta, mandÃbulas esmagadoras, curtas e robustas. Pseudo-operários de coloração branca ou amarelada. Alados pigmentados com asas hialinas (transparentes) e iridescentes. As colônias são pequenas (pouco mais e 1000 indivÃduos) e são inseridas diretamente na fonte alimentar (madeira seca). Desenvolvem-se lentamente, podendo demorar 5 anos para tornar-se maduras,vivendo por mais de 10 anos. Os soldados usam a cabeça para tapar a entrada da colônia. Os integrantes da colônia deixam pelotas fecais tÃpicas em forma de pequenos grânulos. Pelotas fecais escuras devido a oxidação denotam infestação antiga. O gênero Cryptotermes tem distribuição mundial e é a mais importante praga entre os ditos cupins de madeira seca. Esta espécie é a segunda maior praga entre os cupins de áreas urbanas.
Prevenção
- Uso de madeiras tratadas durante a construção do imóvel ou montagem dos móveis;
- Colocação de telas para prevenir a entrada de alados nas áreas internas da estrutura;
- Proteção da superfÃcie exterior das madeiras com tintas, vernizes ou outras coberturas apropriadas, com o objetivo de tapar frestas e rachaduras onde os cupins possam se alojar;
- Aplicar cupinicida em todas as superfÃcies não acabadas dos móveis (aquelas que não tem tinta ou verniz – como a parte de baixo e de trás dos móveis, gavetas, etc.), assim como as juntas nas madeiras, seguindo sempre as instruções de uso;
- Inspeções periódicas em armários, madeiramento do telhado e outras estruturas;
- Não transportar móveis e objetos infestados
A infestação por cupim de madeira seca, normalmente fica restrita à (s) peça(s) atacada(s), e poderá ser controlada (de forma paleativa) por meio de produtos para controle de cupins encontrados em supermercados ou lojas de materiais de construção. Siga as recomendações do rótulo, aplicando o produto nos buracos da madeira deixados pelo cupim.
Caso este procedimento, usando produtos de venda livre de acordo com as instruções do rótulo não der resultado ou a infestação já for grande, sugere-se a contratação de uma empresa.
Métodos de controle
Os tipos de controle podem ser: polvilhamento (insuflação), que consiste na aplicação de um pó dentro de conduites, utilizando polvilhadeira; injeção de produtos, onde se utiliza dos próprios furos da madeira feito pelos cupins. Pode ser feito utilizando-se seringas ou pequenos pulverizadores; pincelamento, aplicando-se o produto em três demãos; imersão, com eficiência no tratamento preventivo em peças avulsas e sem acabamento.
A utilização do MIP é recomendada para melhores resultados.
– FamÃlia Rhinotermitidae
Cupins subterrâneos – Coptotermes e Heterotermes: alimentam-se de madeira e derivados de celulose. Vivem em ninhos que são construÃdos em locais ocultos no solo ou em cavidades, onde a umidade e ausência de luz são condições ideais para construção do ninho. As colônias são consideravelmente grandes, compostas por milhares de indivÃduos. Exploram largamente o ambiente sempre à procura de novas fontes de alimento. A principal caracterÃstica desses cupins é a construção de túneis “de terra†(composto por fezes, outras secreções e terra), denominados túneis de forrageamento.
Coptotermes gestroi: Soldados com 5 mm, cabeça ovalada de cor amarelada com fontanela grande e arredondada, corpo claro, quase branco. Possui uma defesa mecânica (mandÃbulas bem desenvolvidas) combinado a uma defesa quÃmica (produção de substância pegajosa de cor leitosa). Os operários são cegos e de coloração esbranquiçada. A rainha fisiogástrica mede aproximadamente 2 cm de comprimento e o rei têm 6 mm. As colônias têm milhões de indivÃduos, realizam caminhamentos tÃpicos em forma de túnel. Madeiras ou locais infestados ficam recobertos com placas fecais (manchas) de coloração branca.
Heterotermes sp.: os soldados são dimórficos, com cabeça retangular, alongada e de coloração amarelo alaranjada. As mandÃbulas são finas e longas com extremidades voltadas para dentro. Os operários são cegos, brancos amarelados e os reprodutores alados são delgados, alaranjados e de asas claras. Fazem caminhamentos tÃpicos em forma de túnel, e seus ninhos são difusos no solo com grande poder dispersivo. Essas espécies são encontradas também em ambiente agrÃcola.
Prevenção
A prevenção contra infestações por cupins subterrâneos é o melhor meio para reduzir possÃveis ocorrências.
A remoção de todos os restos de raÃzes de árvores, tocos, ou outras madeiras dentro da área de construção antes do inÃcio da obra é importante, bem como a retirada de todos os pedaços de pau e estacas antes da aplicação do concreto, além das tábuas de moldes para a concretagem. Fundações de concreto adequadamente reforçadas previnem grandes contrações e o aparecimento de fendas, as quais permitem a passagem dos cupins. Pode ser feito ainda, o tratamento do terreno.
A utilização de blocos ocos na construção devem ser evitadas. Pilastras de madeira nas fundações devem ser previamente tratadas. Fundações, paredes, muros e pisos devem ser protegidos com produtos cupinicidas de ação residual, constituindo uma barreira eficiente, porém temporária, contra cupins.
As madeiras que venham a ficar em contato com as estruturas da construção devem sofrer pulverizações. Madeiras denominadas moles podem ser tratadas por pulverização, pincelamento ou imersão, com produtos de longa ação residual. O tratamento em madeiras deve ser realizado aplicando-se o inseticida junto a um veÃculo (solvente) próprio, como querosene, álcool, isoparafina ou mistura de hidrocarbonetos, para uma melhor penetração no seu interior, evitando danos à (s) peça(s).
O gesso em acabamentos não deve conter material celulósico. Os revestimentos como azulejos, lajotas e outros devem ser realizados com argamassa contÃnua para o total preenchimento de espaços sob o material.
Métodos de controle
O controle deste tipo de cupim é difÃcil e complicado, uma vez que seus ninhos nem sempre se encontram nos locais de ataque, podendo estar a metros de distância da área atacada. Devido a este comportamento, o controle torna-se difÃcil, não sendo recomendado que se aplique qualquer produto, pois a infestação tende a se espalhar pela área.
Se confirmar que o cupim é subterrâneo, o trabalho deverá ser feito por empresa profissional, através do controle quÃmico e controle de eliminação da colônia por iscagem.
A utilização do MIP é recomendada para melhores resultados.
– FamÃlia Termitidae
Cupins arborÃcolas – Nasutitermes spp.: Os soldados são dimórficos, com cabeça globosa de coloração variada (preta ou marrom) e nasus desenvolvido (proteção quÃmica), corpo de coloração alaranjada. Os operários são também dimórficos, robustos e escuros. Reprodutores alados escuros e de asas pretas. São encontrados na região litorânea. São tipicamente arborÃcolas, mas também possuidores de ninhos subterrâneos. Os ninhos são conhecidos como “cabeça de negoâ€. As colônias possuem milhões de indivÃduos e podem permanecer ativas por 50 a 80 anos. Fazem caminhos em forma de túneis escuros caracterÃsticos. Infestam mourões de cercas, postes de madeira, árvores e edificações.
Métodos de controle
O tratamento em geral é a execução de barreira quÃmica ao longo das áreas perimétricas, junto aos alicerces, conduÃtes elétricos, tratamento do madeiramento por pulverização, injeção ou imersão, infiltração em lajes ou aberturas delas para retirada dos ninhos. Os produtos utilizados são de grande poder residual, e devem ser aplicados diluÃdos em hidrocarbonetos (querosene, ou isoparafina).
A utilização do MIP é recomendada para melhores resultados.
Cupins de solo ou grama – Neocapritermes sp.: Os soldados possuem corpo escuro, cabeça alaranjada e mandÃbulas longas, assimétricas e retorcidas. Os operários têm a cabeça clara e o abdome escurecido. Alados com corpo e asas pretas. Encontram-se infestando gramados, normalmente em madeiramentos em decomposição. Os ninhos são subterrâneos e difusos no solo. Realizam galerias no sistema radicular das plantas prejudicando a absorção de água e nutrientes e a translocação dos mesmos. A presença de mudas mortas entre as plantas sadias costuma ser um indicativo da atividade dos cupins.
Cupim de montÃculo – Cornitermes cumulans: Os ninhos são em montÃculos, de formato variável, com 50 a 100 cm de altura. Apresentam uma câmara externa de terra, com 6 a 10 cm de espessura e cimentada com saliva e a câmara interna, de celulose e terra, menos dura e com galerias. Existem controvérsias quanto aos danos causados por esses cupins, porém, em áreas urbanas, o problema está relacionado à estética e também ao fato de atraÃrem escorpiões, que se alimentam desses cupins, podendo assim provocar acidentes.
Syntermes spp.: Cupins de tamanho avantajado. Soldados grandes, monomórficos, com mandÃbulas robustas e longas, cabeça grande e sub-retangular, de coloração vermelha ou laranja avermelhada e brilhante, com fontanela visÃvel. Os operários são trimórficos, com cabeça de coloração variando de amarelo a alaranjado. Alados bem pigmentados e de tamanho chegando aos 4 a 4,5 cm de comprimento. Possuem hábitos noturnos, os ninhos são subterrâneos, profundos e difusos. Infestam gramados, campos de futebol e golf, em residências e praças, notando-se o amarelecimento e seca em reboeiras do gramado e dificuldade de rebrota. Assemelham-se à s formigas cortadeiras.
Métodos de controle
Pode ser feito o encharcamento do gramado por pulverização com inseticida a baixa concentração, mas bem irrigado e em horários de sol fraco. O produto não poderá ser fitotóxico.
Para o controle do cupim de montÃculo há a necessidade de que o produto seja colocado no interior do cupinzeiro, com o auxÃlio de uma barra de ferro com aproximadamente 80 cm de comprimento e de uma marreta, faz-se a perfuração vertical e central do cupinzeiro até que se atinja a câmara celulósica executando a pulverização.
A utilização do MIP é recomendada para melhores resultados.
Informações adicionais
Muitas vezes os cupins são confundidos com as formigas. Eles possuem várias semelhanças comportamentais e adaptações decorrentes do fato de serem insetos sociais. Porém, não são parentes próximos, sendo também morfologicamente diferentes.
Semelhanças biológicas entre cupins e formigas
- As castas são semelhantes em número e tipo;
- Realizam trofalaxia, sendo este um importante mecanismo de regulação social;
- Trilhas quÃmicas são usadas em recrutamento como em formigas e o comportamento de marcação e de seguir a trilha é bastante similar;
- Há feromônio de inibição de casta, com ação semelhante aos das formigas;
- Comportamento de grooming ocorre frequentemente entre os indivÃduos e funciona, ao menos em parte, para a distribuição dos feromônios;
- “Cheiro da colônia†e territorialidade são ocorrência comum;
- Canibalismo é bastante comum a ambos.
Diferenças entre cupins e formigas
- Casta de operário – masculina e feminina nos cupins e só feminina nas formigas;
- Formas jovens podem trabalhar no caso dos cupins e não nas formigas;
- Não há dominância hierárquica entre indivÃduos da mesma casta em cupins, nas formigas isto é comum;
- Parasitismo social é praticamente ausente nos cupins e comum em formigas;
- Trofalaxia anal é comum nos ditos “cupins inferiores†e bem raro nas formigas;
- Ovos tróficos são desconhecidos em cupins e comum em formigas;
- Macho – chamado de rei no caso dos cupins permanece com a fêmea – rainha depois da revoada, auxilia na construção inicial do ninho e a fertiliza várias vezes enquanto a colônia desenvolve. Nas formigas os machos fecundam durante o vôo nupcial e depois morrem;
- Presença de uma “cintura†nas formigas e ausente nos cupins e antenas em “cotovelo†nas formigas e reta nos cupins;
- Nos cupins as asas anteriores e posteriores são semelhantes em tamanho e nervuras. Nas formigas, as asas anteriores são maiores que as posteriores.
Curiosidades
Os cupins subterrâneos constroem seus ninhos no solo. Eles também fazem seus ninhos em vãos estruturais, como: caixões perdidos em edifÃcios, vãos entre lajes, paredes duplas, ou qualquer outro espaço confinado que exista em uma estrutura. O sinal tÃpico de ataque dos cupins subterrâneos são os caminhos (túneis) que eles fazem sobre a alvenaria ou outro material. Feitos de terra, fezes e saliva, estes cupins constroem verdadeiros túneis que os protegem de predadores, perda de água, e outros contratempos.